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Lambari e Tubarão – O início

Por Reginaldo Spínola

 

Os dois principais
grupos políticos de Itambé, o Lambari e o Tubarão surgiram na década de 70, no
auge da ditadura militar. O Brasil vivia naquele período sob um regime
antidemocrático, que tentava a todo o custo sufocar as opiniões discordantes ao
governo.  Os que ousavam gritar contra
eram perseguidos, presos, mandados para outros países. Jornalistas e empresas
de comunicação sofriam forte censura. Políticos adversários tinham os seus
registros cassados.  Mas foi um tempo
também em que estudantes, trabalhadores, artistas, intelectuais, religiosos
fizeram das ruas os seus palcos de manifestação, onde expressavam a favor da
liberdade e da democracia.
Em Itambé, as garras da
ditadura foram percebidas na existência em âmbito local da Aliança Renovadora
Nacional (ARENA), partido ligado ao governo militar. No quadro de filiados
tinham nomes como Humberto Lopes e Sidney Pereira de Almeida. Porém desavenças
ocorridas dentro do Arena foi o estopim para que os dois políticos fossem jogar
em campos opostos. Uma briga que mudou para sempre os rumos da história de
Itambé.
Com o desentendimento,
Humberto Lopes fortaleceu a sua base de apoio e criou o chamado Tubarão.
Etimologicamente, um dos significados para tubarão é: um nome comum a todos os
peixes elasmobrânquios; têm o corpo fusiforme ou achatado, e são voracíssimos.
O segundo diz que são aqueles industriais ou comerciantes gananciosos. Mas para
os seus fundadores a palavra tubarão era sinônimo de grandeza e poder. Dizem
que as pessoas que faziam parte desta ala eram considerados os ricos da cidade.
Sidney continua a sua
atuação política e resolve pescar aliados para a formação de um grupo que seria
o contrário dos tubarões. “Que nada, não mete medo não! Quem ganha eleição em
Itambé é quem tem dinheiro. Quem ganha é Tubarão”, frase proferida diversas
vezes pelos tubarões em reuniões, segundo contou Margarida Ferraz, que na época
militava junto com Sidney. Ela, ao saber o descredito dado pelos seus rivais,
junto com outros companheiros, foi ao dicionário pesquisar um nome de um peixe
miúdo, porém que desovasse bastante. “Lembro-me bem, foi em uma tarde, na casa
de Sidney. Fomos procurar o nome de um peixe pequeno. Eles eram tubarões por
serem grandes e por possuir alto poder aquisitivo, e nós éramos pequenos por
não ter condições de bancar a campanha”. A nomenclatura encontrada, que em suas
concepções melhor correspondeu aos seus desejos foi a do Lambari. O Aurélio
Buarque de Holanda define assim lambari: pequeno peixe caracídeo muito usado na
alimentação.
As eleições em Itambé a
partir daquela instante se deram em volta de uma espécie de luta de classes. De
um lado havia os ricos e poderosos e do outro a camada menos abastada da
população, os pobres e trabalhadores assalariados. Portanto, dois paralelos que
encontraram nas injustiças deixadas pelas desigualdades sociais o sentido das
suas lutas, armadas com declarações, promessas, ilusões, calcada, na maioria
das vezes, na sobreposição dos interesses individuais em detrimento do
coletivo.
A polarização entre as
duas facções se evidenciou ainda mais durante a primeira campanha eleitoral,
que foi tematizada em cima do dístico: o tostão contra o milhão. Esse mesmo
termo foi amplamente anunciado por Jânio Quadros em sua jornada rumo à
prefeitura de São Paulo em 1952. Jânio se apresentava aos eleitores como um
homem popular, democrático e cristão.
De acordo com Margarida
Ferraz, todos os recursos ou a ausência deles ajudavam a fortalecer essa imagem
no imaginário popular. Como a justiça eleitoral não impedia, “eles (tubarões)
traziam trios elétricos, contratavam bandas, nós fazíamos caminhadas batendo
latas e pedras. O Lambari botou “pocando” assim, batendo pedras”, contou ela.
Neste período a justiça
mostrava-se ineficiente também em outros setores. Era comum grupos armados,
contratados pelos próprios candidatos nas caladas da noite, participar dos
comícios dos rivais. “As disputas eram acirradas. Havia pistoleiros, agressões
físicas e verbais”, declara Margarida, afirmando que o efetivo de policiais
era insuficiente para impedir que estes indivíduos fossem tirados de
circulação. “Mas felizmente ninguém morreu por conta dessa disputa”. É o que
disse a militante.
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