Início Bahia Lutador conquistense sai da periferia de SP e vira ídolo na Tailândia

Lutador conquistense sai da periferia de SP e vira ídolo na Tailândia

Por Reginaldo Spínola

No Brasil, quase todo o menino que mora na periferia sonha em um dia ser jogador de futebol. É uma maneira de almejar o reconhecimento e, ao mesmo tempo, superar as dificuldades financeiras. Luís Cajaíba, conquistense de 23 anos, também teve esse sonho. Que se realizou em outro esporte: o muay thai (boxe tailandês).

Cajá, como é conhecido, é atualmente um grande ídolo da modalidade na Tailândia, onde o muay thai tem a mesma importância do futebol para o brasileiro. É reconhecido em muitos lugares e admirado pelos praticantes do esporte.

O baiano disputará, na noite desta sexta-feira (30), a partir das 19h locais (10h no Brasil), um cinturão no Lumpinee Stadium, em Bangcoc, o principal estádio de muay thai da Tailândia, contra um forte adversário, chamado TalayThong, em uma luta que se tornou assunto nacional. A trajetória de Cajá não foi fácil, até atingir o sucesso fora de seu país.

Há cerca de vinte anos, era quase um bebê quando saiu de Vitória da Conquista, Bahia, com a mãe, para morar em Osasco (SP), na divisa com Carapicuíba. Filho único, Cajá cresceu sonhando em se consagrar no futebol. Seria também uma maneira de elevar a qualidade de vida da mãe, dona de casa, e do padrasto, a quem chama de pai, que trabalha com obras.

“Antes eu queria ser jogador de futebol. Jogava bem. Pensava em fazer musculação para ficar mais forte e na academia tinha muay thai. Comecei a treinar, com sugestão de um amigo. As pessoas diziam que eu levava jeito e fui seguindo. Passei a sonhar com esse momento desde que comecei a treinar, aos meus 15 anos.”

Treinos na ilha

Em Osasco, ele mesclava os treinos com o trabalho. Pedalava cerca de 24 km diários para poder fazer as duas coisas. De dia, trabalhava no pet shop de sua namorada e, à noite, se embrenhava no fortalecimento abdominal, nos exercícios de corda, na repetição de jabs, chutes e exercícios físicos.

Ele passou a disputar competições oficiais. Àquela altura, Cajá vislumbrava se consagrar neste esporte. E sabia que teria de sair do Brasil para conseguir melhor estrutura de treinamento e apoio.

“No Brasil é muito difícil você viver só do thai. Eu fui criado numa academia muito boa, mas apoio mesmo só tive da minha namorada e de um jornalista que ficou muito amigo meu.”

O objetivo dele foi alcançado quando seu atual técnico, Leo Sessegolo, que morava na Tailândia havia alguns anos, veio para o Brasil para dar palestras e  acompanhou os treinos de Cajá. Convidou-o então para uma temporada no país. O lutador foi em abril do ano passado, com viagem paga pela academia onde treina, para não mais voltar.

“Eu aprendi muito aqui na Tailândia. Quando cheguei, percebi que sabia muito pouco de thai. Mas aqui você respira thai o dia inteiro e eu fui aprendendo muito e lutando contra os melhores.”

A linda vista da ilha de Phuket (onde mora e treina), os barzinhos à noite e o burburinho do mercado local se tornaram coadjuvantes em sua rotina de treinamento. Ele diz que quase não faz outra coisa a não ser se dedicar ao esporte.

“Na Tailândia, eu só treino. Meu treinador é muito bom e exigente, a vida aqui não é fácil, mas eu vim focado e treino de segunda a sábado sem parar. Só faço isso. Domingo é meu dia de folga, daí eu passo descansando.”

Ele tem vivido das bolsas das lutas. Não há um valor fixo para cada vitória, já que cada combate é financiado por meio de apostas.

Cajá atualmente ocupa a terceira posição do ranking 147 libras (até 66,6 kg) do Lumpinee. Na Tailândia, as competições são vinculadas a estádios.

No seu cartel, Cajá acumula seis vitórias, entre elas uma sobre o adversário que lhe proporcionou sua única derrota no estádio.

“Lutador “cascudo”

Na opinião do técnico Sandro de Castro, um dos pioneiros do muay thai no Brasil, Cajá é um lutador acima da média, com características típicas dos brasileiros “cascudos”.

“Ele é uma pérola do esporte, um atleta muito humilde e focado. Respira muay thai. Uma vez ele veio fazer um curso na minha academia e notei ele com a marmita nas mãos, extremamente interessado, querendo aprender tudo o que era possível.”

Mesmo em terceiro em uma categoria abaixo, Cajá conseguiu a primeira oportunidade de lutar pelo título na categoria 154 libras (70 kg), que estava vago.

Diante das novas adversidades, principalmente em relação à língua, Cajá afirma ter se fortalecido. “Eu não me importo com críticas e muito menos com elogios. Quero melhorar a cada dia. Na luta, você não ganha do cara conversando.”

E, na véspera de sua mais importante luta, Cajá busca ser o mais direto possível, como se já estivesse diante de seu adversário.

“Essa tem que ser minha melhor luta. Estou tentando me manter o mais calmo possível. Penso que é só mais uma luta que quero ganhar. E deixo a tensão para as pessoas que estão mais longe (familiares e namorada no Brasil). Nem estou pensando em cinturão, nem nas pessoas. Só em fazer uma boa luta e ganhar.”

E independentemente do resultado, sua meta é prosseguir com sua máxima preferida.

“Olhos nas estrelas e pés no chão.”

O reconhecimento, para Cajá, é uma coisa. O deslumbramento é outra.

Por Sudoeste Digital
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