São duas guerras simultâneas no Brasil. A primeira, mais urgente, é contra a pandemia e a disseminação do novo coronavírus. A segunda, mais sutil, é contra a desinformação. Estamos perdendo em ambas. Com méritos para quem dissemina informação falsa ou incompleta com fins políticos e que contribui diariamente para que a Covid-19 saia do controle. Se contra a pandemia é possível encontrar elementos factíveis para debelar a crise, contra a desinformação as perspectivas não são muito otimistas.
Parte disso é responsabilidade de autoridades públicas. Há uma política ostensiva de desinformação para manter o controle narrativo. Isso vai desde a divulgação de medicamentos sem eficácia científica comprovada até uma meia verdade sobre transferências de recursos para unidades da federação. É uma estratégia discursiva do entorno do presidente Jair Bolsonaro, mas que encontra terreno fértil em uma sociedade dividida pelas circunstâncias.
No entanto, existe uma lacuna deixada por outras figuras que tentam prevalecer como sérias. Um exemplo disso é a forma como as medidas restritivas na Bahia têm sido apresentadas ao longo dos últimos dias. O prazo entre o anúncio e a implantação das restrições é curto e quase sempre imediato, mesmo quando o cenário de terra arrasada se rascunhava dentro da previsão. E ainda há um erro grave de comunicação, quando não acontece de maneira uniforme – parece uma imitação barata do plano de vacinação de Eduardo Pazuello.
Basta ver dois episódios envolvendo o “lockdown à baiana”, quando atividades econômicas não essenciais ficam fechadas. Tanto na implantação quanto na prorrogação, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, resolveu anunciar as medidas antes mesmo do governador Rui Costa se manifestar publicamente. Para além de chamar a atenção para si, a estratégia gerou desinformação, pois as mensagens são entregues pela metade – na última sexta-feira, por exemplo, o fechamento foi em toda a Bahia, mas Moema deu a entender que seria restrito à Região Metropolitana de Salvador.
No domingo, outro bate cabeças, ocasionado também pela própria imprensa. No afã de publicar a informação em primeira mão, a imprecisão sobre a prorrogação só criou mais fadiga do que cumpriu o papel social da comunicação. Assim, quem desconfia do despreparo do governo e das prefeituras para lidar com a crise ganhou um prato cheio para se aproveitar. O resultado foi a série de manifestações contra o fechamento das atividades, motivadas pela informação incompleta ou mal formulada sobre a necessidade da medida.
Não são tempos normais. Sabemos disso. Porém se tivermos a real dimensão do que está acontecendo no nosso entorno talvez consigamos separar o joio do trigo. A pandemia e a desinformação têm ganhado sucessivas batalhas. Espero que nós vençamos as duas guerras.
Por Bahia Notícias