Início Bahia ‘O barco começou a desmanchar’; leia relatos de sobreviventes do naufrágio

‘O barco começou a desmanchar’; leia relatos de sobreviventes do naufrágio

Por Reginaldo Spínola

 

Passageiros que sobreviveram à tragédia em Mar Grande, que deixou pelo menos 18 mortos, contaram como tudo aconteceu:

“Quando eu percebi que tinha virado, já estava embaixo da água tentando respirar e não conseguia. Eu pedi tanto a Deus que eu suspendi a cabeça e tive a respiração. As madeiras começaram a quebrar. O barco começou a desmanchar.”

Morenina Santana, 35 anos. Faxineira que vem toda quinta-feira a Salvador para trabalhar.

 

“Dei meu colete a uma senhora, que desmaiou na água. Me segurei em uma boia. Eu faço a travessia uma vez na semana. O barco surfou em cima de uma onda e não conseguiu tirar da outra onda.”

Mateus Alves Ramos, 23 anos. Ele pegou a lancha de 6h30. Seu pai, Marival Ramos, pegou a de 6h

 

“Eu vi a reportagem de Belém (do naufrágio no Pará) e aí eu perguntei a meu marido: se acontecesse isso aqui, o que eu devo fazer? E ele ensinou tudo como fazer para me salvar: respirar, me afastar porque o que mata é o povo que fica em cima. Tudo que ele me ensinou foi o que eu fiz. Hoje eu estou viva e salva graças a ele, ao que ele me ensinou. A Deus em primeiro lugar porque eu fiquei embaixo da embarcação e não sei como eu saí. Eu bati muito a cabeça para poder sair, mas consegui sair. Primeiro, foi Deus e depois eu fiz aquilo que Deus mandou ele (marido) me ensinar. Eu estava na parte por onde o barco virou. Eu estava sentada e o barco virou com o povo que estava do lado de lá e eu fiquei presa. Eu faço a travessia todo dia. Eu trabalho aqui (em Salvador) com administradora de condomínio. Eu não sei dizer o que aconteceu. Eu já atravessei esse mar com vento bem maior e não acontece isso. A embarcação (Cavalo Marinho I) é a pior possível que existe. Para você ter uma ideia, quando ela está encostada lá no normal, já fica toda torta. Muita gente teve a sorte que não veio. Eu mesma ia desistir quando eu vi que era a Cavalo Marinho I. Eu pensei: não vou. Ficou mais ou menos oito ou nove pessoas que quando viu que era a Cavalo Marinho desistiu porque é a pior embarcação que tem. Tinha salva-vidas e bote para as pessoas. Mas nós ficamos em um bote aonde tinha outro bote amarrado e a gente não conseguiu desamarrar e ficou uns por cima dos outros. Eu consegui botar um colete com muita dificuldade porque eles estavam todos dado um nó. Para consegui tirar aquele nó e botar em mim foi muita dificuldade. O normal vem com três/quatro tripulantes. Eles ajudaram muito. Inclusive teve ele mesmo que entrou em pânico porque a criancinha que veio a óbito morreu nos braços dele.” 

Meire Reis, 53 anos, administradora de condomínios

 

“Como é que pode acontecer uma coisa dessa? Uma lancha pequena, fina… e a maré brava! Havia várias pessoas idosas e crianças. Depois que lancha virou, levamos quase duas horas dentro do mar até sermos resgatados. Você precisa ver a proteção das lanchas nos lados. Quando chove baixa as lonas, mas é mesmo que nada. Quando começou a chover forte o pessoal correu para o outro lado. Foi bem na hora que a onda veio e desequilibrou. Virou para meu lado. Quase eu morro pra sair do mar. Foram quatro tentativas. Ainda ajudei umas pessoas. Imagine se fosse em alto mar? Machuquei a perna e o braço. Mas foi irresponsabilidade da empresa e falta fiscalização. Há duas empresas e elas não são unidas.”

Edvaldo Santos, 51 anos, sonoplasta. Ele perdeu a carteira com todos os documentos no acidente

 

“Eu cai e já tinha placa de madeira do barco já sobrando. Aí eu resolvi me apoiar para não me cansar. Depois veio um rapaz que eu não sei quem é, mas quero até agradecer, que me deu a boia e me puxou pra botar no bote. Virou rápido. A gente não esperava. Essas viradas pra lá e pra cá são comuns. Nessa época principalmente. Mas aí virou e não voltou. O mar estava agitado, mas já vimos mais forte. Logo depois do quebra-mar, tem uma rebentação que joga a embarcação. Dessa vez jogou, o pessoal se assustou, levantou também por conta de chuva, já que tava molhando dentro do barco, aí foi muita gente pra um lado só. Tinha bote, tinha colete. Não vi ninguém sem colete depois que virou. Pode ter sido por conta do vento e do mar, mas não tinha superlotação. Me parece que essa embarcação não era apropriada para esse mar. Mas falo como leigo. O socorro demorou muito.”

Silvio Scofield Souza de Sá Oliveira, arquiteto. Mora em Mar Grande e vem a Salvador todos os dias para trabalhar.

(Correio)

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