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Obra de reforma da Matinha em Itapetinga tem verba bloqueada

Por Reginaldo Spínola

Maior zoológico do interior da Bahia, o Parque Zoobotânico da Matinha, em Itapetinga, no Sudoeste do estado, está com a verba da obra de reestruturação e adequação bloqueada pela Caixa Econômica Federal por andar a passos lentos. Com cerca de 100 animais silvestres, como onça, leão, araras, avestruzes, antas, jacarés, macacos-prego, jabutis, cobras e queixadas, o zoo está interditado pela Justiça Federal desde junho de 2016 por funcionar de forma irregular.

A obra, cujo contrato de repasse de verbas foi assinado em 30 de novembro 2015, mas só teve início em 13 de novembro de 2017, é para deixar o zoo em conformidade com as leis ambientais do estado da Bahia e do Governo Federal. O término está previsto para junho deste ano.

O valor total da obra é de R$ 299.958,75, sendo R$ 7.458,75 de contrapartida da Prefeitura de Itapetinga. Com 25 hectares, o zoo funcionou por 15 anos sem nunca ter autorização dos órgãos ambientais do Governo da Bahia e do Governo Federal.

A última liberação de verba, de R$ 146.250, ocorreu em 26 de junho de 2017, porém ela foi bloqueada porque, segundo a Caixa, “após medição, a obra não apresentou percentual mínimo necessário [para liberação]”.

Procurada, a Prefeitura de Itapetinga não comentou sobre o bloqueio de verba, porém garantiu que “a obra está sendo feita”. “Estamos fazendo a parte de lazer do parque e depois iremos para os recintos dos animais e a clínica veterinária”, disse o secretário de Meio Ambiente de Itapetinga Rogério Neves Alves.

O secretário não soube dizer quantas pessoas há na obra, cuja verba é do Ministério do Turismo. Ele informou que o processo de regularização do zoo está em trâmite no Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Inema), órgão estadual que não respondeu ao CORREIO sobre o assunto.

Fiel depositário

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que “o processo de regularização do Parque Zoobotânico da Matinha tramita no Inema”, e que “realizou a apreensão dos animais do local em 2016 e definiu o próprio zoológico como fiel depositário desses animais.”

Segundo a Prefeitura de Itapetinga, a obra é para construir um cercado de madeira, a sede da entrada, a pavimentação, reforma de bar e lanchonete, do playground, sanitários, do sistema de proteção contra descargas elétricas, de combate a incêndio e de um muro em volta do parque.

Muro este que por estar ainda sem ser construído tem facilitado a entrada de invasores que abatem os animais e os levam para vender a carne ou se alimentar. Os principais alvos são os queixadas, também conhecidos como porco-do-mato.

O último abate ocorreu dia 7 deste mês. Segundo o médico veterinário do parque Robert Lemos, bandidos, após invadirem o zoo arrombaram dois cadeados, quebraram uma parede e entraram no recinto onde estavam as queixadas.

Atiraram em um filhote de três meses e em um animal adulto, e machucaram um terceiro, deixando-os na jaula. Em seguida, levaram outros dois, já mortos, arrastando-os pelo parque. Os animais pesavam quase 25 quilos.

No comércio local, a carne desses animais é vendida por cerca de R$ 15 a R$ 20 o quilo, segundo a Polícia Civil, que investiga o crime ambiental e informou que fato semelhante já ocorreu outras vezes. Ninguém foi preso.

Violentos

Lemos afirma que “os queixadas são bichos altamente perigosos e violentos que na selva enfrentam onças” e que certamente mais de uma pessoa matou os animais. Ele está preocupado com a segurança do local.

“A Matinha tem corpo técnico com oito tratadores, dois biólogos, um veterinário, mais uma equipe de apoio. O zoológico é um fiel depositário dos bichos e responde por eles”, comentou Lemos.

Há anos trabalhando no parque, ele conta que o local é roubado há muito tempo. “A Matinha é uma área desguarnecida, sem muros ou cercas, rodeada pelo rio que dá acesso a um dos bairros mais perigosos da cidade. Eu acredito que, com o advento do crack, as coisas tomaram um vulto ainda mais complicado”, ele disse, informando em seguida que os roubos começaram por madeiras.

Ultimamente, invasão de cavalos também tem sido uma preocupação. Há algum tempo, um surto de carrapato atingiu os animais do zoológico por causa da presença dos equinos.

Há mais de seis anos sem receber animais, o plantel do parque vem caindo drasticamente por fuga, roubos ou mortes naturais. Jabutis, araras e queixadas são os animais mais visados pelos bandidos. “Hoje só temos muitos animais aqui porque há uma quantidade muito grande da mesma espécie”, afirmou Robert.

O veterinário acredita que falta à população ter real noção da importância do parque. Para ele, seria necessária uma parceria mais efetiva com os responsáveis pela segurança.

“A presença da Polícia Militar inibiria esse tipo de ação, já que a polícia administrativa ainda não tem porte de armas”, falou. Além disso, Robert acredita na necessidade de videomonitoramento para preservação do patrimônio e da vida dos trabalhadores do local.

À margem

Para o Ministério Público Federal (MPF), autor da ação civil pública que gerou a interdição por parte da Justiça Federal, “o Parque está à margem da formalidade, recrudescendo as irregularidades, omissões e completo descaso com o patrimônio ali representado.”

Ao descrever em 2015 uma cena que pouco foi alterada ainda hoje, conforme a Prefeitura de Itapetinga, o procurador Roberto Vieira disse que há “irregularidades nos recintos os animais, nas clínicas veterinária e cirúrgica, na cozinha e no setor de quarentena de animais”.

A precariedade, destaca Vieira, “não reside apenas nos recintos, mas também nos setores atribuídos à cozinha, quarentena de animais, clínicas veterinária e cirúrgica, demonstrando o completo abandono do local.”

“Os efeitos são sentidos e refletidos também nos animais: serpentes infestadas por carrapatos; leoa com deficiência óssea sem o tratamento adequado; antas, veado, capivara, zebra, suçuarana e queixadas mantidos em locais inadequados; macacos mantidos em quarentena há três anos; alimentos fornecidos diretamente no chão e a céu aberto, jabutis dividindo tanque de água com dezenas de urubus.”

A Prefeitura de Itapetinga informou que aguarda para os próximos dias visita técnica de especialista do Zoológico de Salvador para elaboração de um projeto que sane os problemas apontados pelo MPF no local. Não há data prevista para o projeto ser feito e nem verba garantida para a obra.  ( Texto: correio24horas/fotos: Itapetingareporter)

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