Em uma reviravolta digna de um enredo de novela, um crime de falso sequestro que mobilizou a Polícia Civil de Senhor do Bonfim, no centro-oeste do estado, se revelou em uma trama cheia segredos, mentiras e contradições. Tudo começou quando Guilherme Graceno dos Santos, 18 anos, desapareceu misteriosamente, no sábado, 5, na cidade de Senhor do Bonfim.
“Ele saiu de casa e disse a mãe que iria fazer um lanche e não voltou. Não levou celular, nem documento. Saiu sem levar nada e ficou sem dar notícias”, explicou o delegado Jailson Teixeira, titular da 1ª Delegacia Territorial de Senhor do Bonfim.
Após o sumiço do jovem, a comoção e a preocupação tomou conta de amigos e familiares, que logo procuraram a polícia para registrar ocorrência. No entanto, após dias de angústia e investigações intensas, descobriu-se que o “sequestro” era, na verdade, uma farsa elaborada por ele e pela namorada, uma adolescente, de 16 anos.
“O pai dele [Guilherme] esteve na delegacia, no dia 7, na segunda-feira. Ele disse que o filho tinha recebido ameaça de morte, antes do desaparecimento. No dia 8, o pai retornou à delegacia e disse que o filho poderia ter sido sequestrado e morto pelo sogro”, revelou Teixeira.
Segundo o delegado a trama começou depois que o pai da menina descobriu que um vídeo íntimo entre a filha e o namorado estava circulando nas redes sociais. Devido a essa situação, o senhor teria ficado revoltado e ameaçado o jovem. Ainda conforme o titular, a gravação foi feita em comum acordo pelo casal, que está junto, há seis meses.
“Nos últimos dias, vazou um vídeo íntimo deles, a gravação foi consensual. Eles afirmam que não mandaram para ninguém. Mas, o vídeo chegou ao conhecimento do pai dela”, contou.
Diante das ameaças do pai da jovem, o casal teria decido montar a farsa por vingança.
Fuga do cativeiro
O rapaz reapareceu, no início da tarde da quarta-feira, 10, e procurou a delegacia para registrar ocorrência de sequestro. Na unidade policial, ele relatou ter sido sequestrado por homens armados, no Centro de Senhor do Bonfim, e ficado em cárcere, amarrado e sob a mira de uma arma de fogo. Ele informou ter conseguido fugir com a ajuda na adolescente.
“Ontem ele apareceu na delegacia dizendo que tinha sido salvo por ela. Mas, ele estava orientado [emocionalmente], hidratado e falante. A roupa dele já denunciava. Ele estava muito bem para quem passou três dias sem comer, sem beber e sem fazer necessidades fisiológicas”, descreveu o delegado, revelando que, após o depoimento, o rapaz levou os policiais ao local onde havia ficado como refém.
“Ele indicou o cativeiro. Uma casa abandonada, mas que não tinha nenhuma característica que havia passado pessoas recentemente. Ele insistiu nisso, mas entrou em contradição e falou a verdade”, detalhou, Jailson Teixeira. A casa indicada por Guilherme fica na zona rural de Senhor do Bonfim, próximo ao povoado de Quicé.
Gustavo foi preso em flagrante pelo crime de “denunciação caluniosa e contra a administração da Justiça, contra a própria Polícia Civil”, explicou o delegado. A pena para estes crimes varia de dois a oito anos de prisão. O rapaz foi encaminhado ao Presídio de Juazeiro, no norte da Bahia, e segue à disposição da Justiça. Ele deve passar por audiência de custódia nesta sexta-feira, 11.
Teixeira informou que a adolescente foi apreendida e autuada por ato infracional análogo ao crime denunciação caluniosa e contra a administração da Justiça, contra a própria Polícia Civil. Ela já foi libertada.
