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Aos seis anos, criança baiana entra em sociedade internacional de pessoas superdotasdas

Por Reginaldo Spínola

“Eu quero ser astronauta para descobrir outros planetas”, conta Marcelo Gomes, de seis anos. O sonho parece com o de qualquer criança comum, que se apaixona pelas estrelas, planetas e pelas incógnitas que rondam o universo. Contudo, Marcelo tem um diferencial: um QI de 138 na Escala Wechsler de Inteligência, considerado superior ao da maioria das pessoas (entre 90 – 109).

Morador de Guarajuba, distrito de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, o garoto que começou a falar aos seis meses de vida, cursa o 4º ano do ensino fundamental e foi aceito em uma sociedade internacional para superdotados, a Intertel.

Fundada em 1966, a Intertel é uma das sociedades exclusivas para pessoas com quociente de inteligência (QI) maior que 135 na Escala Wechsler de Inteligência. Para entrar, é preciso comprovar o QI através de diversos testes e laudos de neuropsicólogos.

Segundo a sociedade, os membros são minoria na população, o que corresponde a 1% dos mais de sete bilhões de pessoas do mundo. Na Bahia, existem apenas dois membros inscritos na Intertel – e um deles é Marcelinho, o garoto apaixonado por Star Wars que sonha em ser astronauta.

Intertel aceita membros com QI igual ou superior a 135 — Foto: Arquivo pessoal

Segundo o psicólogo Jardson Fragoso, mestre em análise do comportamento, desde a primeira infância as crianças superdotadas dão sinais de que elas se desenvolvem e aprendem com mais facilidade. No caso de Marcelinho, quando falou as primeiras palavras aos seis meses de idade, ele formulava frases como “bom dia” e “quero leite”.

“Quando ele tinha dois anos, a gente estava viajando e ele apontou para um aviso e disse: ‘mamãe, dentista’. Realmente tinha escrito dentista, tomamos um susto”, relembrou Tatiana Gomes, mãe de Marcelo.

Saga escolar

Ao perceber a expertise do menino aos dois anos, os pais de Marcelo decidiram o matricular na escola. Apesar dos avisos sobre a alfabetização precoce e autodidata do menino, a direção explicou que ele só poderia iniciar no chamado “Grupo 2”.

A série foi caótica para Marcelo, que não conseguiu se adaptar aos rabiscos, brincadeiras e outras dinâmicas passadas pelos profissionais e que abraçam crianças de dois anos. Um dia a mãe recebeu uma ligação da escola solicitando que ela comparecesse à instituição e foi comunicada que precisaria transferir o filho de série.

”A diretora me ligou e fomos comunicados que ele disse que não queria ficar naquela sala. Ele falava que queria estudar e lá não tinha nada”, relatou Tatiana.

”Ele perguntava para a professora: ‘que horas a gente vai estudar?”, completou o pai, Marcelo.

Laudo da neuropsicóloga que avaliou Marcelo e relatório da escola que ele iniciou os estudos, no interior da Bahia — Foto: Arquivo pessoal

Foi aí que começou a saga de frequentar níveis escolares para crianças mais velhas. No “Grupo 4”, aos três anos, Marcelinho fez um teste de nivelamento e foi matriculado no 1º ano (equivalente para crianças de 6 anos) na Escola Emanuel, em Guarajuba. Quando terminou o 1º ano, ele havia completado 4 anos. Atualmente no 4º ano, o garoto é cerca de três anos mais novo que os colegas de turma.

O pai gostaria que Marcelo tivesse uma educação especializada para crianças com QI alto, assim poderia aprimorar suas habilidades e interagir com pessoas com realidades parecidas com a dele.

O Ministério da Educação (MEC) afirma que trabalha na criação de um cadastro nacional que englobe as principais informações sobre pessoas autistas. O objetivo é que, a partir desse cadastro, sejam criadas políticas públicas que auxiliem no melhor desenvolvimento dessas habilidades especiais. Não há informações sobre quando o projeto será implantado.

O g1 entrou em contato com o Governo da Bahia, com o objetivo de saber se, a nível estadual, existem políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes superdotados, mas não teve resposta até o fechamento desta matéria.

O que diz o especialista

Em conversa ao g1, o psicólogo Jardson Fragoso, explicou que casos como o de Marcelo, tratam-se de superdotação e altas habilidades. Na maioria dos pacientes com essas aptidões, as crianças se desenvolvem rapidamente e reagem ao mundo de maneira diferente das demais.

Marcelo Lopes — Foto: Arquivo pessoal

Jardson disse ainda que o desejo do pai de Marcelo, de uma educação especializada para crianças com QI alto, é necessário e esclareceu que o ideal é uma educação dedicada às necessidades dessas crianças, para que equilibre o desenvolvimento dos pequenos.

O psicólogo detalha que os marcos de desenvolvimento do ser-humano não são medidos apenas pela capacidade intelectual, mas também de outras áreas do conhecimento, principalmente as que envolvem os relacionamentos.

”Essas crianças podem ter um desenvolvimento social e motor prejudicado por estarem pulando etapas da vida. Essa maneira vigente na educação não aproveita o melhor que elas têm a oferecer”, explicou.

Jardson revela ainda a importância do ambiente, sobretudo familiar, que a criança é inserida. O especialista defende que atitudes como a da mãe de Marcelinho de não podar a imaginação do pequeno, de responder questionamentos e de definir tarefas do dia a dia, são capazes de auxiliar no desenvolvimento e outros marcos da vida.

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